Debate



Depois das intervenções dos oradores convidados, seguiu-se um debate aberto a todos os presentes. Damos conta das ideias avançadas pelos diversos participantes, de forma sintética. Várias opiniões consideraram que o assunto não pode ficar apenas reduzido à intervenção dos especialistas, dada a importância da vivência pública do local. Por exemplo, o Jardim de Diana mereceu uma crítica quanto à qualidade do seu arranjo actual, mas diversas intervenções de frequentadores desse espaço manifestaram que o mesmo é muito utilizado por residentes e por turistas, constituindo um espaço de lazer importante no Centro Histórico, que deve ser melhorado, mas não destruído, como o projecto pretende. A própria pertinência da dimensão do projecto foi questionada pelo facto de constituir mais um aproveitamento de verbas disponíveis do que uma resposta a necessidades de intervenção tão profundas, que não existem. O Prof. Ribeiro Telles considerou que este projecto não está em sintonia com o que se está a passar com as cidades em geral, que se assumem como cidades-região, e reafirmou que nele não surge a ideia de futuro. A Arq.ª Margarida Cancela de Abreu questionou se, com a intervenção prevista, se acrescenta algum valor simbólico ao valor do templo, pois destacá-lo não é o mesmo que dignificá-lo, alertando ainda para o problema da drenagem das águas, pois desconhecem-se as consequências que terá nos quintais e poços da Mouraria a enorme placa de lajes de granito projectada. Foi realçada a importância histórica e típica das calçadas de Évora, que o projecto pretende eliminar, em vez de se limitar a intervenções pontuais que beneficiem a mobilidade dos peões. Houve críticas à ambição de projectistas que não se inibem de transformar profundamente zonas ou locais históricos sensíveis, alheados das ligações afectivas e funcionais dos mesmos, que ignoram. Por exemplo, foram referidas a transformação do espaço contíguo ao templo em “sala de espectáculos”, eliminando a simples fruição do espaço, substituindo o turismo cultural, que constitui a mais-valia da cidade de Évora, pela submissão ao turismo de massas, que pode por em causa a sua atractividade futura, e a transformação do templo num “bibelot” a decorar um plano lajeado. Foi manifestada a preocupação pela confusão entre a valorização de um espaço e a sua alteração radical, bem como a conveniência absoluta em ligar o valor edificado ao natural, no que são fundamentais os espaços verdes. A lógica que orienta estas intervenções não pode ser casuística, como parece acontecer no caso presente. O Dr. Filipe Marchand, referindo-se a questões estratégicas de enquadramento do Centro Histórico, considerou que os dez milhões de euros da Acrópole XXI seriam mais úteis noutro local que dinamizasse o tecido urbano da cidade. «O que faria sentido era encomendar a reformulação do Jardim de Diana, fazer uma intervenção localizada ali e pouco mais», disse. Também afirmou que o excesso de lajeamento previsto é um erro a evitar, transformando tudo o que está na cidade em cinzento dificilmente visível. «É mesmo um excesso!» Ainda a propósito do jardim e do estacionamento automóvel, recordou que há cerca de vinte anos, quando tinha responsabilidades no Gabinete do Centro Histórico da Câmara Municipal, o assunto foi muito discutido e surgiu a ideia de uma rampa, em substituição do aterro que suporta o jardim. Outras intervenções salientaram o desconhecimento em relação às consequências dos debates públicos realizados e a ausência de discussão das soluções decididas pelo poder autárquico. O caso da deslocação da estátua do Dr. Barahona, paga por subscrição pública, foi referido, não porque ela não possa ser efectuada, mas por não serem aceitáveis os critérios utilizados. No âmbito do projecto global Acrópole XXI, foi questionada a atribuição de cerca de um milhão de euros para uma marca a criar, que não foi explicada pelos responsáveis. A finalizar, o Prof. Ribeiro Telles disse que «há aqui um problema básico que veio ao de cima: Évora nasceu num lugar dominante, tem uma génese de estruturação orgânica, uma relação constante de planos com frestas, uns para os outros. Não podemos pensar na Acrópole sem pensar na totalidade da cidade». Retomando a intervenção do Dr. Filipe Marchand, defendeu como hipótese a transformação do Jardim de Diana num jardim em socalcos, conferindo ao templo uma visibilidade e uma valorização paisagística coerente com a morfologia do local – «a Acrópole faz parte de um sistema morfológico do terreno. O projecto é contra-natura! Uma plataforma sobre a realidade, que é o que está por baixo». No seu entender, o projecto devia ser revisto com uma atitude mais corajosa, eliminando a plataforma «e nada de alinhamentos arbóreos!» O «radicalismo da proposta» não é compatível com Évora, disse ainda a Arq.ª Margarida Cancela de Abreu, considerando também que o primeiro passo para acabar com um jardim é danificar as árvores, como sucedeu no caso presente. Quanto ao problema do estacionamento, afirmou que o debate, hoje, é sobre a compatibilidade do automóvel com o património – e todos devemos «aprender com o património». Concluiu considerando que, se o projecto é tão polémico, como o debate mostrou, então «deve haver mais reflexão e ponderação», sem pressa em encontrar uma solução, secundando opiniões no mesmo sentido anteriormente feitas.